Cestaria

O fazer manual se torna um espaço de aprendizado coletivo, de fortalecimento da cultura e de protagonismo feminino.

Cestarias Koripaco: Saberes Ancestrais e Resistência Cultural

A atividade “Cestarias Koripaco” representa um importante momento de fortalecimento cultural, onde os saberes tradicionais são compartilhados e vivenciados entre gerações. Mais do que uma prática artesanal, a cestaria é expressão da profunda conexão entre as mulheres Koripaco e seu território — rios, florestas, memórias e espiritualidades que se entrelaçam em cada fibra trançada.

Durante essa vivência, homens e  mulheres compartilham suas técnicas e histórias, desde a coleta das fibras naturais até o trançado cuidadoso que dá forma a objetos idealizados  como: paneiros, jarras e cestos. Cada objeto produzido carrega valores culturais, identidade étnica e resistência, reafirmando modos de vida sustentados pela ancestralidade e pelo cuidado com a natureza.

Histórico e Caminhos de Resistência

O povo Koripaco tem origem na região da fronteira do Alto Rio Negro, entre Brasil e Colômbia. Durante o período de intensificação dos conflitos armados na Colômbia, sobretudo com o avanço das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), famílias Koripaco se viram forçadas a buscar refúgio e paz em novos territórios.

Segundo relato de Clemente Paminare Pinto, os irmãos navegaram em suas canoas à procura de um lugar seguro para reconstruir a vida. Se retiraram de São Joaquim, da aldeia conhecida como warirambá na fronteira do Brasil com a Colômbia, ouviram histórias de moradores que haviam vivido em Kamanaus, pessoas que reconheciam como parente e possuíam grande extensão de terras capazes de acolher suas famílias.

Foi no ano de 1985 que estabeleceram relações com moradores da região, especialmente com D. Aguida Baniwa, esposa de Ampérico de Oliveira (Sr. Curumbá), falante da língua Baniwa. Com a intermediação de D. Aguida, os Koripaco dialogaram com a família Oliveira — Sr. Curumbá, Sr. Aquidabam, Sr. Aristedes e D. Cleonísia — e conseguiram uma doação de terra 100 x 50 metros para iniciar uma nova Morada.

A chegada do cacique Feliciano e seus filhos:  Clemente Paminare Pinto, Hermínia Paminare Pinto, Júlia Paminare Pinto e Lucinda Paminare Pinto marcou o início da presença Koripaco em Kamanaus. Este processo de acolhimento foi protagonizado pelo povo Baré da região do sítio Kamanaus. Comunidade reconhecida com Areial.

Hoje, a presença dos Koripaco na região e a continuidade de suas práticas culturais, como a cestaria, simbolizam a força da memória, da coletividade e da resistência dos povos indígenas do Alto Rio Negro.

É também um momento de fortalecimento comunitário, onde se reconhece o papel das mulheres como guardiãs dos saberes tradicionais e protagonistas nas dinâmicas econômicas e culturais do povo Koripaco.

Assim como o Povo Baniwa, o povo Koripaco busca reconhecimento de seus traçados, grafismo no intuito de apresentar a sua particularidade com riquezas culturais.   

A memória Ancestral digital de Kamanaus apresenta a história desse povo para que possamos  conhecer, aprender e valorizar essas mãos que tecem história!

As cestarias, feitas a partir de fibras naturais e técnicas ancestrais, não são apenas objetos utilitários ou artísticos – são expressões vivas de identidade, território e memória. Ao integrarem mais um resultado de trabalho proporcionado pelo Fundo  Podáali, essas práticas ganham visibilidade e apoio para fortalecer a geração de renda das mulheres, sem romper os vínculos com seus modos próprios de vida e de produção.

No contexto do Fundo Indígena da Amazônia Brasileira- Podáali, a cestaria Koripaco se destaca como um exemplo de atividade produtiva enraizada no conhecimento tradicional, que respeita os ciclos da natureza e valoriza o protagonismo das mulheres na gestão econômica e cultural de suas comunidades em seus territórios.

Mais do que uma técnica, a cestaria é um elo entre o passado e o futuro, entre o saber local e o fortalecimento da autonomia indígena.

É economia da floresta. É arte do território. É resistência em cada traço.

Saberes ancestrais que entrelaçam memória, território e autonomia.

A atividade de cestaria, realizada pelo povo Koripaco, é uma prática ancestral que se renova a cada gesto, a cada trançado, fortalecendo os laços entre gerações, natureza e identidade.

Mais do que produzir cestarias, essas mulheres compartilham saberes tradicionais, histórias de vida e técnicas aprendidas com suas mães e avós. O fazer manual se torna um espaço de aprendizado coletivo, de fortalecimento da cultura e de protagonismo feminino.

Essa prática vem ganhando destaque, como uma expressão concreta da economia da floresta e da autonomia indígena. O trabalho das mulheres Koripaco dialoga com a tradição das cestarias Baniwa, mas se afirma com sua própria estética, técnica e identidade cultural, conquistando espaço em feiras, exposições e processos de valorização do artesanato indígena.

Agora, esse saber também passa a integrar a Memória Ancestral Digital da Ilha de Kamanaus – um projeto que preserva, registra e compartilha os conhecimentos dos povos do rio, a partir da voz de quem vive e ensina.

Feito por mãos que ensinam. Registrado para as futuras gerações.