Por meio da sabedoria ancestral e da relação profunda com a natureza, as mulheres buscavam não apenas a fertilidade, mas também o fortalecimento espiritual e a continuidade da vida.

Entre o povo Baré, assim como entre outros povos indígenas do Rio Negro, os lugares sagrados guardam mais do que belezas naturais — são espaços carregados de espiritualidade e memória. Ali habitam os encantados, seres espirituais que protegem e mantêm o equilíbrio entre o mundo dos vivos e o mundo invisível. São também locais marcados pelos passos dos ancestrais, que deixaram ali suas histórias, ensinamentos e forças.
Esses lugares sagrados podem ser pedras, serras, igarapés, rios, cachoeiras ou até mesmo árvores específicas. Cada um guarda uma história, contada e recontada pelos mais velhos, narrativas que falam sobre origens, grandes viagens, transformações e lições deixadas para as gerações futuras. É nesses espaços que o povo Baré realiza rituais, faz oferendas e busca força espiritual para seguir o caminho da vida.
Entre esses lugares sagrados, há um que carrega um significado muito especial para as mulheres: a Pedra da Fertilidade.
Segundo contou o mais velho, o senhor Curumbá, morador do Sítio Camanaus, esse ritual ancestral era realizado por mulheres que desejavam engravidar. Tudo começava com a preparação de um chá feito com ervas medicinais e a água de chuva acumulada nos buracos ao redor da pedra, considerada o “útero”. Essa bebida era oferecida às mulheres, que depois precisavam cumprir uma tarefa desafiadora: juntar os pés e pular de uma margem até alcançar a outra, sem separar os pés. Esse salto simbolizava a passagem entre a infertilidade e a fertilidade.
O ritual podia ser repetido quantas vezes fosse necessário e sempre era realizado nas noites de lua cheia, momento em que a força da natureza se fazia mais presente.
Assim, por meio da sabedoria ancestral e da relação profunda com a natureza, as mulheres buscavam não apenas a fertilidade, mas também o fortalecimento espiritual e a continuidade da vida.